Destaques

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A Moda Feminina de 1750 a 1780

A moda feminina se multiplicou rapidamente a partir de meados do século XVIII. Os estilos ingleses eram populares e tiveram impacto considerável nos trajes franceses assim como as influências vindas do oriente.

Vestido de Corte (robe de cour)
Recebeu esse nome por ser associado à corte de Versailles. Na corte de Louis XVI (1774-1792), os trajes eram extravagantes, reflexo do excesso da vida aristocrática que culminou com a  a Revolução Francesa em 1789.
Populares a partir de 1750, os vestidos de corte perduraram como traje formal feminino até a Revolução. Também chamado de grand habit, é um robe à la française feito de tecidos luxuosos, ricamente ornamentado, com corpete rígido de decote levemente oval, amarrado atrás e terminando numa ponta bastante acentuada na cintura. A saia, ricamente ornamentada é usada sobre um grande panier, terminando num barrado e com uma possível cauda. O corpete e a saia são sempre do mesmo tecido (isso caracteriza o robe à la française) e um bordado simula o stomacher. No vestido de corte, os paniers alcançaram amplitudes extremas, chegando à 3,60 metros lateralmente. Com variantes em cada país, essa traje é usado em toda Europa.



Os Estilos Ingleses (estilos à l'anglaise)

O entusiasmo pelos estilos ingleses na França começou nos últimos anos do reinado de Louis XIV (1643 - 1715) e pegou mesmo em 1755. Devido à moda do esporte e da equitação, as pessoas vão se entusiasmando com os trajes ingleses simples, confortáveis e práticos. 

Como era na Inglaterra?
Na  Inglaterra estava havendo um interesse por comodidade, esportes e um gosto pelo campo. Embora a França ditasse moda, as inglesas elegantes tinham uma interpretação diferente da moda francesa. As inglesas preferiam vestidos mais justos, um exemplo é o sack dress cujas pregas nas costas, na Inglaterra, foram logo modeladas.
As inglesas também gostavam de usar as saias em tecido acolchoado (matelassê) e mantilhas de renda preta sobre os ombros ou fichus enfeitados com laço de fita e presos com jóia. Os cabelos das inglesas não eram empoados e em cima da touca eram usados chapéus de palha conhecidos como champignons ou bergère, moda desconhecida na França. Os trajes ingleses são em tecidos simples, com pouco enfeite, em algodão ou musselina e suas versões na França, costumam ser em sedas.

 
O vestido inglês (robe à l'anglaise)
O que caracteriza um robe à l'anglaise é especialmente o recorte das costas do corpete. O corpete era justo, com barbatanas nas costuras, mas bem mais leve que o super estruturado estilo francês. A frente do corpete tinha um decote profundo normalmente coberto com um fichu de linho (um triângulo de tecido envolto nos ombros e pescoço preso no decote) e formava uma ponta no centro das costas, encontrando uma saia costurada junto à ele que tinha uma fileira de pequeninas pregas nos quadris terminando numa pequena cauda atrás. A saia era suportada não por um panier mas por simples rolls/hips/bumpads  e se abria amplamente na frente sobre uma anágua ou saia de baixo que podia ou não ser do mesmo tecido do vestido (lembram que o robe à la française, a saia de cima é sempre igual à saia de baixo?).
Por volta de 1765, os stays cônicos se flexibilizaram e em 1768, os robes à l'anglaise são recomendados até mesmo para bailes e o robe à la française ficaria reservado para cerimônias. Sendo assim, o vestido inglês se torna uma peça do cotidiano. 
Eu confeccionei um robe à l'anglaise seguindo o molde original da época, vocês podem ver o resultado aqui: robe à l'anglaise: referências e finalização



Vestido redondo (round gown)
É uma variação do robe à l'anglaise, mas a saia e a anágua são uma só, sendo uma saia fechada.



O redingote (riding coat)
Outro estilo inglês era o redingote, desenvolvido do hábito de cavalgada e popularizado na Europa continental depois das primeiras corridas de cavalo em Paris. A peça tinha um corpete ajustado, com grandes botões, lapela, gola dupla e às vezes com a frente cruzada como um sobretudo masculino. A saia podia ser fechada ou aberta pra revelar a anágua. Havia diversas variantes da peça. Era normalmente usado com um imenso chapéu com pena, também de origem inglês. 


Curiosidade: O chapéu não era um acessório corriqueiro na moda francesa e é aí que entra outra influência da moda inglesa, que gerou na França o surgimento dos coiffeurs e dos marchands de moda, criadores de barretes e chapéus imensos que logo entrariam em voga.

Peliças
Durante todo o século, as roupas de pele estiveram em voga, caracterizadas por nesgas com bordas de pele pra passar o braço.



As influências do leste europeu

A partir de 1775 surge uma sucessão de modas ininterruptas, como: à circassiana, à levita, à levantina, à turca, à sultana... originadas por causas diversas, desde políticas, pelo sucesso de retratos turcos, pelas viagens de mulheres dos embaixadores exibindo toaletes orientais ao retornar à França e especialmente pelos figurinos de teatro. Por exemplo, a primeira ideia do vestido à levita (explicado abaixo) veio dos trajes criados para a apresentação Athalie no Théatre Français, que eram inspirados no traje sacerdotal judaico. Listarei alguns exemplos destas modas:


Vestido à Polonesa (robe à polonaise)
Um dos estilos particularmente populares na corte francesa, era um estilo chamado "à la polonaise" - significa "no estilo polaco" (mesmo que esse estilo nunca tenha sido usado na Polônia). Digamos que a característica principal era o corpete ser "afivelado" em cima do busto e ser justo nas costas. A saia de cima era franzida na altura dos quadris e era repuxada atrás por cordões em três painéis de tecido arredondados, curtos nos lados (asas) e longo atrás (cauda).  O vestido era bem curto, algumas vezes chegando até os tornozelos. Tinha mangas lisas que costumavam terminar acima do cotovelo, numa forma conhecida como en sabot, com punho de gaze ou de tecido.


Vestido à circassiana (robe à circassienne)
É uma variedade do à polonesa, do qual difere por suas mangas curtas que deixam passar a manga longa da sobreveste de baixo.



Vestido à levita (robe à lévite)
É um vestido reto segurado na cintura por uma grande echarpe cujas pontas caem sobre a saia de cima. 



Vestido à levantina (robe à levantine)
Vestido tão confortável que exige poucos preparativos pra vestir ou tirar. É um vestido de mangas curtas vestido sobre uma veste de mangas longas, preso no peito e a saia, aberta na frente, podia ter pregas atrás. 



Vestido à turca (robe à la turque)
Apareceu pela primeira vez no Palácio Real em 1779. É como um vestido-casaco, o corpete de cima é bem justo, costurado ao corpete de baixo, assim como as mangas curta e comprida são juntas. É sem muitos enfeites, com uma gola que cai dobrada, e com uma grande faixa atada na cintura. A saia é aberta e cortada reta (como a do robe a l'anglaise). A parte de trás poderia ter pregas ou um bufante semelhante ao do polonaise. 



Vestido à sultana (robe à sultane)
Inteiro aberto na frente, de mangas curtas ou compridas, caracterizava-se basicamente pelo contraste de cores entre as partes das roupas.




Vestidos Simples
Entre 1778-1779, os vestidos en chemise entram na moda.

Vestido chemise, gaule, à la creole ou chemise à la reine
Um vestido en chemise é uma peça enfiada no corpo pela cabeça ou pelos pés. É usado com um corpete leve ou sem corpete, de mangas curtas ou compridas, com cintura normalmente alta, decote livre em torno do pescoço "ao estilo de uma chemise", cintado por uma echarpe e feito de gaze de seda sob um fundo de tafetá ou musselina. Pode abrir-se sobre uma saia leve. O retrato de Marie Antoinete pintado por Mme. Vigée-Lebrun usando um vestido chemise junto com um chapéu de palha foi um escândalo como podem ler no post: Visuais que chocaram épocas



Forreau ou falso vestido
Este vestido foi uma reação contra os stays com barbatanas. É um vestido de uma só peça com o corpete  amarrado atrás e a saia franzida e fechada na frente. Um cinto de fita em cor viva é amarrado na cintura. 
Essa peça era usada pelas crianças inglesas desde meados do século e foi adaptada para mulheres adultas consolidando-se em 1781, no inicio do período revolucionário em razão de sua simplicidade, pois é usado sem os stays e sem panier. É chamado de "falso vestido" por ser uma novidade, ser um vestido "fechado", ou seja, "vestido" são peças abertas sobre uma saia ou anágua.
É confundido com o chemise, mas o chemise tem cintura alta e pode ter saia aberta; já o forreau tem sempre a saia fechada, cintura "normal" e corpete de ponta.


* Existem alguns outros estilos de vestidos não citados nesta postagem. Embora haja alguma iconografia sobre eles na web, não encontrei nos livros e fashion plates definições seguras sobre o que os caracterizava, então, é possível que os aborde futuramente, quando eu estiver mais segura quanto às características principais deles.


Négligées

A partir da regência surgem roupas simples com a forma do vestido em uso no momento.
 Négligé é um traje informal, são pequenas vestes caindo sobre os quadris, mais ou menos ajustadas na frente e folgadas nas costas. Entre 1775-1780, a peça ganha alguns nomes de acordo com o estilo em que é cortado. As nomenclaturas são:

- corte ao estilo do robe à volante: casaquin 

- corte ao estilo do robe à la française/polonaise: caraco. Este tem basques nas costas (pierrot/juste).

- corte ao estilo do redingote: veste


A Moda Espanhola e Italiana no século XVIII
 Vale a pena abrir um espaço pra falar das peculiaridades das modas destes dois países.

Espanha
Enquanto a maioria das classes altas européias copiavam as modas francesas, a moda espanhola variou ligeiramente a partir de meados do século. As espanholas usavam seus vestidos de uma forma mais curta, com pés à mostra, sem paniers e com caracos. Ou seja, trajes bem mais leves que na França, muito comumente vistos nas obras do pintor Goya. Elas adicionavam xales em cores brilhantes e vestiam a tradicional mantilha espanhola, uma especie de véu de renda preta ou branca suportado por um pente tartaruga (tortoiseshell comb) nos cabelos.



Itália
Na Itália, sobretudo nas cidades de Veneza, Milão, Florença, Roma e Nápoles, o robe à la française é o mais usado, mas lá ele é chamado de andrienne. Em Veneza, para sair, veste-se uma capa curta, a tabarrino e a bauta, uma semi máscara branca enfeitada com um babado de renda preta. A mascara preta redonda é a moreta. As damas de da nobreza de Veneza e Gênova usavam muito a cor preta.


Leia mais sobre o século XVIII:
A Moda Masculina de 1700 a 1770
A Moda Feminina de 1700 a 1750

A Moda Masculina de 1770 a 1789
Existe diferença entre a Moda Georgiana e a Moda Rococó?
Robe a L'Anglaise, Parte 2: Referências e Finalização
Cabelos em tom pastel no século XVIII

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

© .História da Moda. – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in