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terça-feira, 23 de setembro de 2014

A História da loja Biba e o seu legado.

Este é um guest post, escrito por minha amiga Lauren Scheffel, espero que gostem!

A história da loja Biba se inicia junto à rebeldia de Londres nos anos 60. Seguindo o ritmo da contracultura, a marca abraçou os jovens que viviam intensamente suas excentricidades e que procuravam uma moda menos careta e mais informal. 
Seu conceito para a época foi visionário, poucas lojas até hoje conseguem se encaixar e sobreviver nesse padrão. Precursora do fast fashion, alavancou o formato de departamento chegando a vender de tudo, até fralda roxa de bebê! Conseguiu sair da cena alternativa e penetrar no mainstream. 

Tudo começou com Barbara Hulanicki e seu falecido marido Stephen Fitz-Simon. Ela, uma polonesa radicada na Inglaterra, estreou na carreira como ilustradora de moda em grandes jornais e revistas, a exemplos British Vogue e Women’s Wear Daily. 
O começo da marca veio por sugestão de Simon, quando lhe propôs desenhar peças de roupa e vendê-las por correspondência. Assim nasceu a Biba’s Postal Boutique. Um negócio pequeno mas que ganhou destaque em colunas de moda como a do jornal Daily Mirror.

Abaixo anúncio procurando funcionárias e anúncio no jornal.


Depois de algumas tentativas, o primeiro sucesso viria num vestido com estampa vichy cor de rosa e um lenço de cabeça combinando. Venderia como água e a renda obtida permitiria a abertura da butique na Abingdon Park em 1964. Dali em diante, seu crescimento comercial e midiático seria estrondoso. 



Barbara Hulanicki na Biba:


A loja no início:



Para suportar o volume, necessitou mudar de lugar algumas vezes. A última e mais impressionante foi na Kensington High Street, onde se transformou em loja de departamento e chamada de Big Biba. Tinha cinco andares, decoração Art Dèco, sofás de veludo, paredes pintadas de preto e rock n’ roll tocando bem alto. Infelizmente, a expansão trouxe problemas sérios, e o resultado foi o seu fechamento em 1976.

A Big Biba:



A marca criou jornal próprio em 1973. O primeiro exemplar (abaixo) teve 17 páginas com textos de David Smith e fotos de Rolph Gobbits.


Além do comércio de roupas e cosméticos, havia também a de alimentos, como restaurante e vendas de sorvete. Repare que a imagem tinha um quê de Carmem Miranda. 



Logotipos no estilo Art Noveau



Alguns fatores para a Biba ter alcançado notoriedade: 

- O local caiu no gosto de nomes famosos, o que fez com que se tornasse ponto de encontro de grandes artistas daquela geração. Começando por Cathy McGowan, uma inglesa que ganhou fama ao apresentar o programa Ready Steady Go!. 
A influência e fama de Cathy eram tamanhas, que ganhou o título de Rainha dos Mods e virou ícone de Twiggy, nas palavras da própria modelo. Além das citadas, Mick Jagger, Yoko Ono, Brigitte Bardot, Jean Shrimpton, Mia Farrow, entre outras personalidades, também frequentavam a loja. 

Cilla Black (com o manequim na mão) e atrás Cathy McGowan 

- O preço das peças serem baixos facilitava a acessibilidade de diferentes camadas sociais como consumidoras. Imagine você poder comprar no mesmo local que Mick Jagger? Era o que ocorria. Barbara chegaria a comentar o fato: “Todas as classes se misturavam sob o rangido do telhado (da loja). Não havia distinção social. Seu denominador comum foi a juventude e a rebeldia contra o establishment.” 

- Apesar de ter começado com roupas, criou fama também com os cosméticos que chegaram a ser vendidos para 33 países, incluindo o Brasil. A marca foi à pioneira ao introduzir batons em cores incomuns, como marrom, preto, verde e o Metallic Grandma, uma mistura de azul marinho com brilhos de prata. Aliás, foi o primeiro local a permitir o teste de produto antes de se comprar. 


- A Biba tinha seu estilo de maquiar, conhecido como “The Biba Look” ou “Dudu Look”, inspirado nos anos 20 e 30.

    Twiggy e um anúncio demonstrando como se ter o olhar "Dudu"




Curiosidades finais:

-Sabem quem trabalhou por lá? Anna Wintour! Foi seu primeiro emprego como assistente de loja, tinha apenas 15 anos e foi arranjado por seu pai, o editor Charles Wintour. Dizem que um dos interesses que fizeram Wintour prestar atenção na moda era assistir ao programa de Cathy McGowan. Acho que agora dá para entender de onde saiu a inspiração para seu famoso corte de cabelo.
     
 Anna Wintour bem novinha/Cathy McGowan entrevistando Paul McCartney



- Não existia nada na vitrine. O objetivo era não atrair (isso mesmo!) as pessoas a entrarem na loja.

- As peças da Biba são supervalorizadas no mercado vintage.

- Logo após o fechamento da marca, em 1976, a designer e o marido se mudaram para o Brasil. Eles viveram no Rio e em São Paulo. Nesse período, abriram na capital paulistana a Barbara Hulanicki, localizada na Alameda Franca. Além da venda de roupas, seria lançada uma linha de maquiagem com o mesmo nome. Depois da temporada brasileira, ainda na década de 80, retornaram a Inglaterra.  

Barbara hoje em dia

Atualmente, Barbara mora em Miami e se concentra fazendo desenhos exclusivos que vão desde projetos de moda a hotéis. Depois de desenhar para Fiorucci e Cacharel, entre os últimos trabalhos está sua colaboração para uma coleção TopShop em 2009 e outras mais recentes para Asda.

Em 2006, Biba foi relançada sob o comando de Bella Freud, filha do renomado pintor  Lucien Freud. A estilista lançaria apenas duas coleções e deixaria a marca para lançar a sua própria. Em 2009, a House of Fraser compra a companhia da qual detém os direitos até hoje e comercializa somente via site. 

Mesmo com a revitalização, a nova Biba ainda não conseguiu alcançar o esplendor igual aos tempos áureos. Barbara critica severamente a atual dona da empresa por cobrar muito caro, fugindo do objetivo primário. “Eu adoro ver as pessoas felizes por fazerem compras sem se sentirem culpados porque elas gastaram dinheiro demais. Eu quero fazer o que sempre fiz, roupas para jovens que vivem em conjugados”. 

Essa é a verdadeira Biba que deverá ficar marcada para sempre na memória da moda.

* A reprodução de parcial ou integral de trechos do texto só é permitida com prévia autorização.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Os 50 anos da minissaia!

*Estou reproduzindo aqui no blog este artigo em homenagem aos 50 anos da mini saia. Ele foi originalmente escrito para o blog Moda de Subculturas, onde também citei a mini saia sendo usada pela cena alternativa. Aqui, coloco imagens históricas adicionais. Vamos lá!

Por alguns ela (ainda) é considerada vulgar, indecente e deselegante. Mas o fato é que ela já se tornou um clássico da Moda. Uma peça de roupa que incomoda tanto só poderia mesmo ter nascido e se firmado entre os rebeldes: a mini saia! Nós, que já nascemos acostumadas à elas, talvez não imaginemos o quanto as minis foram revolucionárias.

Uma breve história
Após a segunda guerra mundial, a chamada geração Baby Boomer vivia numa Londres de efervescência cultural e de mudanças de costumes. O rock n' roll, a psicodelia, a pop art e os hippies eram alguns dos movimentos que surgiam. A jovem inglesa Mary Quant (que completou 80 anos em 2014) é considerada a criadora* da mini saia. Mary era fã do carro "Mini" e por isso a saia recebeu este nome. Desde os anos 1960, devido à Swinging London, Londres é considerada a capital da cultura pop e da moda para o mundo todo!
* o francês André Courrèges, inventor do vestido trapézio, também é considerado um pioneiro da mini saia. Em 1965 ele lançou a "Mod Collection". Yves Saint Laurent e Pierre Cardin também fizeram coleções com a mini na mesma época.
Mary Quant diz que foram as próprias garotas de King's Road que inventaram a peça, que era fácil de vestir, simples e juvenil. Você poderia se mover livremente, pular e correr atrás do ônibus. Mary diz que apenas começou a fazer a barra na altura que as garotas queriam: bem curtas!

Mary Quant nos anos 60 e atualmente


 Mary Quant iniciou a produção em massa de seus modelos de saias e vestidos curtos.


Naquela época, havia todo este espírito libertário no ar, as mulheres revelaram seus joelhos e coxas pela primeira vez, o que foi visto como um sinal de rebeldia e emancipação.



Twiggy, modelo símbolo da Swinging London, viva com minis! O corpo magro entrou em voga para as mulheres da época para contrastar com os corpos rechonchudos de suas mães e avós. Um rompimento com as gerações anteriores consideradas antiquadas. Uma nova geração, novos hábitos, novo corpo!



Coco Chanel, uma mulher que em sua juventude foi à frente de seu tempo, quem diria, não aprovava as minis! Atualmente, a marca Chanel tem Karl Lagerfeld como diretor artístico desde 1983, e ele é um especialista em saias curtas. Karl cutuca, dizendo que Chanel, aos 80 anos, estava fora de moda e não entendia os anseios da nova geração! Outros dizem que ela não gostava de ver jovens no comando da Moda da época...


A Revolução
Antes da mini saia, a roupa era usada para esconder as mulheres de "apetites" masculinos, só que tais roupas não eram práticas e dificultavam os movimentos. A mini vinha como uma opção rápida e prática de se vestir, tornando a moda  mais divertida e decretando a morte da austeridade convencional.



Símbolo do feminismo da época, a mini saia, era uma forma de se rebelar, de reivindicar a sensualidade e a sexualidade. Isso, é claro, desagradava os pais das garotas que as proibiam de usá-la Mas não tinha jeito, elas simplesmente pegavam seus vestidos e os cortavam!
A mini era algo tão novo que quando a peça  chegou aos Estados Unidos não havia um mercado pronto para recebe-la, mesmo assim, a juventude americana estava igualmente fascinada e ansiosa pela liberdade, buscando roupas menos rigorosas e uma elegância ousada.


A saia chegou a ser proibida em países como a Holanda, houveram protestos contra ela na França. Mas também houve protestos de mulheres exigindo o direito de usá-las! Uma peça que ganhou comoção popular porque mostrava um pouco mais do corpo feminino, sempre considerado um "objeto" a ser resguardado, já que os velhos hábitos diziam para as mulheres se vestirem de modo "decente", afinal elas passavam de ser propriedade dos pais para logo a seguir serem dos maridos. Demorou uns bons anos pros tabus caírem, a revolução de maio de 1968 ajudou nesse processo.


A Mini saia hoje
Pelo fato de ser curta, muitos a associam à vulgaridade, o que de certa forma não é certo. A vulgaridade (assim como a elegância) é muito mais ligada à gestos e atitudes do que à uma peça de roupa específica.
Se nos anos 60, os corpos magros rompiam a geração baby boomer com a de seus pais, atualmente já está mais do que provado que todos os tipos de corpo podem usar a peça, mesmo as mais gordinhas, quanto mais curta uma saia, mais alonga as pernas e consequentemente provoca uma ilusão de ótica de a pessoa ser mais magra e alta do que realmente é.
Usada com leggings ou meias calças, torna-se uma peça menos sexy e ousada, ao mesmo tempo que simboliza uma ambiguidade: liberdade + repressão.
Nos dias de hoje, por ter se tornado uma peça clássica, já perdeu muito de suas conotações originais, se tornou uma peça ambivalente e até mesmo de militância, já que as mulheres querem ter direito de usar a roupa que quiserem sem serem julgadas ou atacadas. 

Fontes pesquisadas: 
Documentário- Minissaia uma história curta
A Roupa e a Moda
História do Vestuário no Ocidente.

sábado, 24 de maio de 2014

Analisando Quadro: A Caçada na Corte de Filipe o bom (século XV) - Os Vestidos Disfarçados

Hoje vamos analisar as roupas do quadro "A Caçada na Corte de Filipe o bom" de cerca de 1442.

Observem a pintura, por que todos estão de branco?


A resposta é extremamente simples: porque a cor branca foi um tema imposto para a festa!
Mas não se trata só disso.

Essa obra nos mostra os chamados "Vestidos Disfarçados" ou robes deguisées.

Os robes deguisées eram trajes que destoavam do padrão de moda vigente (por isso "disfarçados"). No quadro, as roupas são anteriores às roupas usadas na década de 1442 [veja como era a moda deste século aqui]. Se repararem, as roupas recebem referências que variam de de pouco mais 20 à 100 anos antes [aqui]. Os homens usam batas curtas com pregas abauladas. Há mantos inspirados na moda italiana. Vários deles usam chopines.

No centro, a duquesa tem um manto acolchoado de arminho. Como outras moças, seu penteado tem enchimentos postiços trabalhados, coberto com uma coifa de rede e miçangas. Várias outras mulheres usam capelo sobre redes. No centro, uma moça usa o capelo clássico fechado com um alfinete logo abaixo do queixo.



Repare numa mulher, no segundo plano, à esquerda. Ela usa luvas vermelhas e gola alta, ambas algo bem raro na época. Outras mulheres também usam um cinto alto, trabalhado.

Aproveito a deixa pra que seja observada outra coisa: repararam que apenas uma mulher à esquerda do quadro, na frente, levanta a cauda do vestido?

As mulheres da classe alta medieval e renascentista usavam vestidos com longas caudas, era uma forma de mostrar riqueza em tecidos ou enfeites suntuosos, o que servia pra as diferenciar das classes inferiores. Pois bem, estas mulheres eram ensinadas a andar desde muito novinhas com saias excessivamente longas e eram capazes de levar coisas, subir escadas e fazer as atividades diárias sem nunca levantar suas saias.
Já as mulheres de classe baixa, normalmente trabalhavam, e longas caudas atrapalhariam suas atividades, por isso as saias das classes mais baixas eram mais curtas e não tinham caudas. 
O fato da moça em questão estar levantando a cauda do vestido, é algo muito incomum (já que não há uma saia de baixo adornada pra ser mostrada) e pode ser uma alusão ao pregnancy look.

Não é interessante encontrar uma festa medieval cujo tema revivia de forma misturada moda de entre 20 e 100 anos antes?

Fonte: História do Vestuário no Ocidente, François Boucher.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A Rainha Victoria e o vestido branco de noiva

Carregamos ainda hoje, no século XXI, muitas heranças sociais e culturais da Era Vitoriana (século XIX), uma delas é o vestido branco de noiva. Sem fugir dos posts clichés habituais do mês de maio sobre noivas e casamentos, apresento uma história muito breve sobre o tema em questão.

A Relação entra a Rainha Victoria e os vestidos de noiva brancos

O vestido de noiva nem sempre foi branco. Embora tenha-se usado branco durante diversas épocas da história, a cor não era uma regra, era uma opção e em alguns casos, diferenciação social, já que a cor mostrava a sujeira, se tornando assim, um símbolo de statusO vestido de casamento já  foi verde, vermelho e já foi apenas um vestido novo, que seria usado normalmente depois da cerimônia.
A cor branca em nossa cultura ocidental carrega um sinônimo de pureza e tranquilidade. 

Hoje, temos o pensamento de que noivas "devem usar branco", mas muitos não sabem dizer o porquê. Não sabem dizer de onde vem esse costume. Esse hábito é muito mais por herança cultural do passado, do que por qualquer um outro motivo. Se fôssemos seguir as regras certinhas, usar branco por "pureza ou virgindade" na sociedade atual, faria  boa parte da população se casar de outras cores. E dizer que é a religião ou a igreja que sempre exigiu o branco também não está históricamente correto, já que na Espanha do século XVI o vestido de noiva deveria ser preto por obediência à Igreja.

Em 1840, a rainha Victoria se casou por amor com o Príncipe Albert com um vestido branco. Na época, Victoria escolheu o branco porque era uma cor não usada pra casamentos - era uma cor incomum, ela quis fugir do padrão. O motivo da escolha também foi uma questão política: devido ao desenvolvimento industrial, as rendas agora eram bordadas em máquinas, os artesãos estavam ficando sem emprego, assim, a rainha colocou um exército de artesãs trabalhando pra ela por meses.


Além da cor do vestido, outra moda que Victoria lançou foi o uso do véu e do buquê de flores brancas miúdas. As mulheres a imitaram. Victoria reinou durante todo o século XIX, numa época considerada super conservadora.

Esse foi o vestido branco usado por ela em seu casamento em 1840:


Reparem que o vestido da rainha, no estilo da moda da época, é meio que até hoje a referência dos vestidos de noiva, quando dizem "quero me casar com vestido de princesa": corpete, saia armada, véu e rendas.

Então se hoje se diz que as noivas "devem usar branco" não é exatamente porque elas "devem", é muito mais porque ainda carregamos heranças culturais do passado que ainda não foram rompidas ou substituídas. A personalidade da Rainha Victoria era tão forte que nos influencia ainda hoje.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Fotografia de Jacques Henri Lartigue (de 1906 a 1929)

Registros fotográficos são a melhor forma da gente ver como eram as roupas antigas de fato no corpo das pessoas.
Jacques Henri Lartigue (1894-1986) foi um pintor e fotógrafo francês que adorava clicar a moda e as modelos francesas. Atualmente o Instituto Moreira Salles em SP está com uma exposição sobre ele que vai até maio, visitem o site da expo, para informações: http://www.lartiguenoims.com.br/

Tentei colocar as fotos mais ou menos numa ordem cronológica, começando com a década de 1900, depois 1910, 1920... Como nem todas as imagens tinham data pode ser que alguma esteja fora do lugar ;-)
As fotos menores podem ser ampliadas, basta clicar nelas.

 
  

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